Quinta-feira, 30 de Setembro de 2004
Não sou mais que uma pluma
De cores claras suaves tão claras
Que não tem cor nenhuma
Por só ter cores raras
Sinto que estou neste mundo
Para amar o belo o intocável
Mas as correntes do mundo
Só me dão o que é pálpavel!
João Miranda
Gostava de observar
Os dias passarem
E neles se notarem
A alegria a felicidade
Que sinto por te ter
Porque é verdade
São dias
De imensas alegrias
Carinhos
Angustias
Que desejo manter
Livre...
Só para mim
Hoje e sempre
Te quero
E...feliz
Te peço
Fica comigo...assim
Dia e noite
Até ao fim!...
João Miranda
30-Julho-1995
Terça-feira, 28 de Setembro de 2004
Meu coração
Sem cor
Sem voz
Sem tempo,
Veio nas ondas do mar
Beijar-me os pés!
Escutei o vento dizer
Que o embaraça nas galés
Depois perdi-lhe o rasto
E o esquecimento
Veio repôr a qietude
A paz...
E até a esperança
De que um dia o pensamento
O visse no embalo das marés...
Sem ele que aridez
Me foi a vida
De renúncia
E de tudo tão esquecido
Num amargo sabor de solidão...
Mas quando ele voltou
Desiludido recusei-lhe um abrigo
Uma guarida
E devolvi ao mar
Meu coração
Apenas porque tenho medo!!!
João Miranda
14-Setembro-2003
A luta tem sido vermelha
Da cor do meu do teu sangue
A força vem e vai
Ás vezes desfalece e caí.
A luta tem sido vermelha
Da cor do meu do teu sangue
A luta é dura e árdua
A batalha é continua
Se semeias podes colher
Se não o fizeres não colhes
As rosas que a vida pode ter.
A luta tem sido vermelha
Da cor do meu do teu sangue
A terra tem custado a desbravar
Apesar de árdua há que continuar
Para as rosas tu possas colher
E o dourado da felicidade consigas ter.
A luta tem sido vermelha
Da cor do meu do teu sangue
Quase estamos exangue
De tanta luta travar.
João Miranda
30-Dezembro-1994
Segunda-feira, 27 de Setembro de 2004
Exalo a brisa marinha
Nos poemas nascidos
Na rebentação das ondas
Saboreia-se a torrente
Do rio interior.
No sublime do poeta
A cantar os cheiros e as cores
Do Douro passando junto à Foz
Mastiga-se cada sílaba
Cada palavra e todos os versos musicais
Onde a gélica nudez das pedras
Se cobre de pétalas amarelas
E nos deixa inebriados.
Entra-se no poema
Na doçura da areia ao fim da tarde
No sussurar de cada flor abrir-se
Ao vento agreste
E somos penetrados
Até ao fundo do nosso ser
Pelo aroma dos frutos silvestres
Pelo delírio das águas
Salpicando os pirilampos
Caídos do céu ao anoitecer.
João Miranda
Quinta-feira, 23 de Setembro de 2004
Sou o espelho
Em que te conheces
Olhos que vêem o teu mar
A ilha que procuras
O deserto do pensamento
Chamou por alguém,
E só estavas tu.
Do outro lado do espelho
Somos o mesmo reflexo
A mesma luz
Nada vislumbra de ti
Nem de mim.
Quem és?
Quem sou?
Quem somos?
Porque ninguém vem ter connosco
E o dia nasce para lá dos montes
Altos como barreiras
Talvez intransponíveis?
Porque este espaço
Tão cheio de noite
Só quero sair de mim
E libertar as asas no horizonte.
João Miranda
16-Junho-2002
Quarta-feira, 22 de Setembro de 2004
Resido aqui mesmo
Num charco profundo
Ah! Não!
Sem lama que eu vejo do fundo
Do charco onde moro
E não vivo
O mundo!
E quero falar
Que as águas do charco
Iam aumentar
Meu corpo indefeso iria afundar
São águas de pranto
De tanto chorar
Por isso só saio com a certeza
Que posso viver instantes sem dor
Sentir a beleza
Do mais puro amor
Momentos de vida jamais conspurada
Quero antes o meu charco
De água lavada
Se o choro que eu choro
Me deixa postado
Não chorem por mim
Que antes magoado
Renúncia de vida por nunca vivida
Minhas mãos vazias
Tão cheias de nada
De cabeça erguida
Por mais rendida
Quero a dor sem lama
Por mais soluçada.
João Miranda
A minha raiz dividida
Em duas partes
Tão diversas distintas
Tão ricas
Descobrir
Diáriamente
Na dor saudade
Duma ausência perdida
No mistério.
Reflectir
A vida
A falsa amizade
A morte lenta
A fé perdida...
Erguer
Sózinho cada dia
Jorrando em lágrimas
De frieza
E afastamento
Fantasiar
A coragem de seguir
Em frente
Na poesia lunar
No toque terreno
Das cores
Pisar
Personagens turvas
E mesquinhas
E agarrar
Manhãs de esperança
Nestas mãos
Que são minhas!
João Miranda
Segunda-feira, 20 de Setembro de 2004
Não quero ficar inerte
A ver este mundo girar...
Não! eu não quero ficar
Quero ser navio sem remos
Não ter bússola nem velas
Para à noite ir a correr
Atrás da lua e das estrelas
Como um barco à deriva
Na rota de uma esperança
Andar numa roda viva
E ser a roda que avança...
Vestir as asas do vento
Em noites de tempestades
Pôr luzes no pensamento
Nunca chorar de saudade
Mas desejo não me perguntar
Se correu bem a viagem
Porque no barco onde navego
Eu estou só de passagem
E quando um dia chegar
Ao velho porto no fim
Que ninguém fique a chorar
No cais da vida por mim!!!
João Miranda
Um instante!
Um encontro!
Uma paragem!
Recordar
Sempre mais um pouco...
Pela estrada
Ficar
A distância
Será coisa pouca...
O caminhar
É mais longe...
O cérebro
Constrói
Ainda mais...
Uma parcela
De esperança...
Querendo esquecer
A maldade
Pessoas
Sem nexo
A tortura
Deste tempo
Sem tempo ter.
João Miranda