Quarta-feira, 29 de Dezembro de 2004
Era um bolo rei
Todo bonitão.
Grande corado,
Todo enfeitado.
Que tentação!
E os olhitos
Das crianças
Que passavam
Afagavam
Suas frutas
Que brilhavam...
Era dia de Natal...
Muito bem
O tal bonitão
Ficara por esquecimento
Na montra da solidão...
E tistezinho
Parece menos risonho,
Menos corado
E até mesmo desbotado...
Diz-se que o Natal
O menino Jesus
Segrega com carinho
Um desejo mansinho
De fazer bem
E foi assim que alguém
Só acredita.
Para ver rir
A pequenada
Num certo lar entrou
E ali deixou
Sabes o quê?
O bolo rei
Grande e bonitão
Muito corado e tostado
Dos olhitos ladinos
Que passavam
E sonhavam...
João Miranda
Terça-feira, 28 de Dezembro de 2004
Escrevi,
Uma linda carta de Natal
Dentro de mim.
Tenho-a presente
E (se puder)
Vou dá-la a toda a gente.
Fiz-lhe um desenho
Leve e risonho
Do tamanho
Do meu sonho
E uma palavrinha só,
Aberta e franca
Como uma flor
A responder
Na sua rima certa:
AMOR!
João Miranda
Quinta-feira, 23 de Dezembro de 2004
Flores
Rios
Pássaros
Crianças
Música!
Homens em coro
De mãos dadas
Familia sempre!
Futuro!
Presente
Passado!
Amanhã
Homens
Mulheres
Beleza
Amor
Paz
Um sorriso
Simplesmente um beijo
Um aperto de mão
Tanto faz!
NATAL!!!
A todos um Santo e Feliz Natal
João Miranda
Segunda-feira, 13 de Dezembro de 2004
Esta noite andei por aí
Caminhando na cidade
E vi...
Os grafitti duma revolução descarnada
Dos que não pensam
Porque lhes roubaram primeiro o tempo
Depois o equilibrio
Do desassossego do sonho.
Das prostitutas que se mirram
Por causa de um chulo
E a quem o desespero chega
Por não poderem aconchegar
Os que nascem e os que não nascem.
Esta noite andei por aí
E vi...
Os que sofrem na ainda espera
Que o branco igual dos cabelos
Mostre igual a cor da pele.
Dos que são humanos
E a todos odeiam
Porque não os deixam ser humanos.
Dos que vivem do egoísmo
Para sobreviverem.
Esta noite andei por aí
E vi...
Os que dormem em caixas de cartão
E ás vezes nem a idade sabem.
As mulheres caladas - sofridas
Do álcool da vitória e da derrota
Os meninos que calçam
De ouro os filhos dos patrões
Que os exploram
Os que pedem a moedinha
Para a droga.
Esta noite andei por aí!
João Miranda
Quinta-feira, 9 de Dezembro de 2004
Aquele menino!
Menino com um sorriso feliz!
Esfarrapado
Sedento faminto!
Não tem ninguém!
Não tem pais...
Tem que viver - vende jornais.
Tão só
Como um raio de sol esquecido na noite.
Aquele menino!
Que comunga da pureza apática
E insípida do luar
É límpido chora de dor
É pobre... Pobre como muitos outros
Não compreende porque murcha uma flor
E busca o remédio no além!
Aquele menino!
Que ouve vozes de crianças
Não tem que apagar suas esperanças,
Penetra no mistério das estrelas
E na realidade profunda
Que não se alcança só em vê-las.
Aquele menino!
Só no mundo... não quer ir na torrente
Mas vai... Vai e molda-se nessa teia
De hipócrita miséria latente.
Aquele menino!
Caminha à luz das noites mansas
Agarrado à vida!
Caminha sem parar... em linha recta
E a caminhar... Caminha
Será sua missão de poeta!
João Miranda
Segunda-feira, 6 de Dezembro de 2004
Os dias correm velozes
Breve primavera e verão
Nos céus com ares ferozes
Há nuvens de apreensão
E libertam as suas vozes
Neste circuito do tempo
Em continuo movimento.
As folhas que este outono
Foi tornando amarelecidas
Libertam-se ao abandono
Deixam de cepas despidas
Entregando-se a esse sono
Perpétuo das suas vidas
Nesse tempo com leveza
Regras da mãe natureza.
Assim nós humanos vamos
Perdendo toda a frescura
Se ao espelho nos olharmos
Maior ainda a desventura
E por infelizes nos damos
Ao ver o preço da factura
Que na hora certa cobra
Por concluida sua obra.
São as rugas os cansaços
A ausência da paciência
Trémulas pernas e braços
E olhar sem consciência
É um mundo de fracassos
Que se arrasta turbulência
Do qual não mais sai ileso
Por impotente indefeso.
João Miranda
Quinta-feira, 2 de Dezembro de 2004
Não há fantasma
Que me espante
Nem que passe e me assuste!
Cura ou sentimento
Na pureza te minto!
Não há lua
Que me olhe no espelho
Como olhar nu e cru
Que se transforme noutra lua!
Ai sangrenta dor
Que mereço
Já tudo transparece
Como o fogo e água pura
É o que a vida me reserva
Que só eu sinto
Porque quem peca
Deixar de mim a flor!
João Miranda
07-09-95
Quarta-feira, 1 de Dezembro de 2004
Pessoas,
Milhares delas,
Que se vêem mas não se conhecem
Amam-se
Mas não sabem.
Gente
Que precisa do mundo
Gente
Que caminha na solidão
Na tristeza da noite escura.
Pessoas
Gostando de carinho
Doutra gente
Que falam e andam
Sem saberem
O porquê do amanhã
Que chega
Gente perdida
Na rua sem fim
Do beco sem saída
Mas...
Conhecendo a sua existência.
Gente fugitiva,
Do homem
Das mãos
Do esperar eterno
Do dia longinquo
Gente ansiosa,
Do Amor
Imperioso e urgente
Doutra gente.
João Miranda