Quinta-feira, 28 de Abril de 2005
O segredo da morte
Está no coração da vida
E trás-me este vento norte
Recordação da partida.
Partida singela e triste
Como quem vai sem dizer
Porque de tudo desiste
E já não quer mais viver.
Morreu e erguer-se nu ao vento
E fundir-se com o mar
E não dar pelo momento
De que nos vêm buscar.
Oh, que saudades meu pai
Um dia iremos nos ver
Sei que a minha alma vai
Contigo sempre viver...
João Miranda
Terça-feira, 26 de Abril de 2005
Não desanimes
Entre o sol que chega
E a noite que cai.
O tempo é de esperança
Pela verdade expulsa
A mentira e o rancor,
Ilimina o amor
Semeia a bondade
Desperta!
Cresça a felicidade
Entre as rubas flores
Unindo os povos
Num diálogo
Lúcido e profundo
Para bem do mundo
Sem falsas promessas
Sem ódios sem sangue
Sem troar de canhão...
João Miranda
Que recitar ou declamar
Sobre Abril sobre a história?
Que tenho para vos contar
Se Abril foi de glória!
Já tudo foi dito e escrito.
Do país é já memória
Já tudo foi dito e escrito
Tudo foi declamado
Do que foi Abril o grito
Da arma G3 com cravo.
Faz parte da nossa história
E na escola é ensinado.
Revolução pela liberdade
Novo mundo nos foi dado.
Que tenho eu para vos contar
S tudo já foi contado!
Falar dos militares de Abril
Neste país tão mudado?
Falar dos nossos partidos
Que o têm ignorado?
Não!...
Abril são as nossas mãos
Sempre dadas sempre unidas
É a amizade entre irmãos
São as lutas consegudas.
Abril é a nossa vontade
É juventude e mocidade
Abril é servir a terra
Que Abril aos filhos lega.
É de todos quantos dão
Amor e freternidade
No lugar terra nação
Ensinando a liberdade.
João Miranda
Quarta-feira, 20 de Abril de 2005
Vejo no céu uma estrela
Sinto bem o seu brilhar
Mas fico cheio de pena
Por não a poder apanhar
Colocá-la no teu leito
Enquanto estiveres a sonhar
Se calhar não tenho jeito
Para admirar teu olhar.
Essa estrela és tu meu bem
Que brilhas no meu universo
Porque o teu brilhar é também
Do meu coração um bem.
João Miranda
Terça-feira, 19 de Abril de 2005
Oh semeadora de palavras
Se quisesses no teu chão plantar
Dizias que escrevias...
Ah com gaivotas escrevias
Na água do rio...
Um mar de poesia!
E até queria...
Ser gaivota perdida
Para te encontrar...
Na investida
Dum marinho olhar!...
João Miranda
Eu gostaria saber dizer
Aquilo que diz a musa
Sem ter a mente confusa
Tudo assim a florescer
Qual aroma a desprender
Daquele perfume que usa
Aquela mulher que abusa
Da bondade do meu ser.
Eu gostaria de saber sentir
O sentimento que sente
O peito da nobre gente
A elevar-se a emergir
Para depois não carpir
Em estalo deprimente
E mostrar-me repelente
Com vontade de fugir.
Eu gostaria de saber amar
Com aquele amor tão puro
Que não se sente inseguro
Nunca e em algum lugar
E pelos ventos enviar
As mensagens do futuro
Das perspectivas que auguro
Deste meu breve passar.
João Miranda
Quinta-feira, 14 de Abril de 2005
Tantos graus negativos!
As mãos arrefecem
A lareira acessa.
Acendo milhões de quimeras
E molda perfis de penumbra
Na poesia da sala adormecida.
O frio chega aos ossos da alma
E propaga-se pelas veias
Em novelos de tormento
E não há lenha que chegue
Para queimar o perfume das flores
Do pensamento.
João Miranda
Segunda-feira, 11 de Abril de 2005
Grândola cantou como ele sabia
Era uma homenagem a uma terra
Sonha que iria servir
Uma cantiga desta era.
Traz outro amigo também
Para não esquecer quem nos quer
Amigos que nos querem bem
Quando a luta um dia vier.
Cantigas de Maio
Quem diria o que era a vida
Zeca será sempre lembrado
Nem que seja um só dia.
Fez das suas canções
Uma luta de dia a dia
Zeca não tinha ilusões
Cantar também ajudaria.
Zeca por muitos lados viajou
Cantava para os trabalhadores
Ele sempre cantou
Tivesse saúde ou dores.
Com lembrança e realidade
Uma geração que o poeta não esqueceu
Ouvir música do Zeca com saudade
Para amigos Zeca não morreu.
João Miranda
25-Abril-2002
Sexta-feira, 8 de Abril de 2005
Hoje devorei
Manjares enfeitados
De pétalas
Musicadas
Com exótico sabor.
Porque hoje é sábado
Fui ouvir o cantor.
Hoje agarrei
Melodias etéreas
Lançadas pela garganta
Da orquestra
E pela voz do poeta.
Hoje embalei
A minha noite sem sono
E sem cor
E o meu corpo perturbado
Pelas canções de amor.
E porque hoje é sábado
E porque trouxe comigo
O violino o piano
A guitarra
E atirei uma flor
Guardei em mim
A voz do cantor.
João Miranda
Quarta-feira, 6 de Abril de 2005
As dunas infinitamente belas
Com o esplendor do sol
Rendadas de plantas
Espinhosamente brancas e liláses
Rasteirando as areias
Olhei-as de cima do passadiço
Projectado para o mar
As cordas lateralmente a baloiçar
Sinuosas como corpos morenos
Fervilhando de paixões
Milhões de lábios devorando a luz
Olhos rasgados flutuando sobre ondas azuis
Numa profusão de formas
Redondas e macias
Narinas trémulas engolindo odores
De uma gama infinita de protectores
Sobre o lençol celeste
Há braços e abraços
Pernas como tentáculos
Enroscando desejo de sexo derretido
Num lamento levado pelo vento
Ao fim da tarde
E as dunas agora sombreadas
Pelos reflexos do sol poente
Permanecem altivamente
Livres e sós... sempre.
João Miranda