Terça-feira, 31 de Maio de 2005
Tu que serves para tudo
Que fazes de pai
Quando este não está
De chefe de família
Quando ele não existe
De companheira
Quando não há outra
De mulher amiga
Quando realmente és amada
E compreendida
Não fiques triste
Só porque és mulher
Pelo contrário
Deves sentir-te orgulhosa
Apesar de tudo "eles"
Precisam de "vós".
João Miranda
Segunda-feira, 30 de Maio de 2005
Calcoreei as ruas da minha cidade
Pelos recantos da memória
E da arte.
Naveguei por mares dos quais se diz
Que as ondas alterosas gritam de saudade
Numa humilde casa de viela
Viveu Alexandre Herculano.
Mais à frente
O que resta do Arco da Sant'Ana
Que Garrett eternizou.
Este filho do Porto
Fez-me procurar outro
Tão grande como ele
Médico de profissão
Seu nome Julio Dinis
Porque Deus assim o quis.
Oh guitarras do meu país
Só estas dão voz à nossa poesia
Deixem-me sonhar
Deixem-me ser feliz.
Vieira Portuense e suas telas
António Nobre e seus versos - Só.
Universidade jardins monumentos
Tudo vi revi admirei
No "Desterrado" de Soares dos Reis
Descobri-lhe nos olhos ainda uma lágrima
E aí compreendi a tristeza
A saudade da nossa poesia
Nossas cantigas nosso fado.
Poetas é muitas vezes doloroso
Quando se é também caminhante
Sente-se sob ' maneira o valoroso
E a falsidade.
João Miranda
(Novembro 1998)
Sexta-feira, 27 de Maio de 2005
Há quem olhe com desdém
E quem maltrate também
Os idosos em geral
Não sabem que a mocidade
Não dura uma eternidade
E que a velhice é natural.
Ser velho é sentir em vida
A sua missão cumprida
Seja a sorte boa ou má
Seja homem ou mulher
Não chega a velho quem quer
Muitos até não chegam lá.
Segue pois o meu conselho
Vê se dás a quem é velho
Afeição e alguns carinhos
Sabes bem que é verdade
Há quem trate com crueldade
Mesmo os pais já velhinhos.
Se tiveres a felicidade
De chegares à terceira idade
Pergunta ao teu espelho
Aos velhos o que fizeste
E por tudo o que disseste
Se mereces chegar a velho.
João Miranda
Quarta-feira, 25 de Maio de 2005
Correu terras correu mundos
Rios e vales cidades vivas
E deixou marcas profundas
Nas avenidas que vai dar
À torre maior dos poetas
De andar lá tão alto
Na campina abobadada dos céus
Qual "pastor de nuvens"
Tão longe e tão perto
Dos sonhos meus
Deve navegar entre "santos nauticos"
De mares gelados
Aos mares de pérolas e corais
Protegendo a barca dos poetas
Que cantam valores universais.
João Miranda
Segunda-feira, 23 de Maio de 2005
Buscaste a paz do amor
O prazer de amor
O desejo de fundir-te
Num rio corrente
Seres tu o amor
E amar amar
Com o coração cheio
E que o encontraste?
Uma vida cheia de noites vazias
Fixo o teu olhar
Tão cheio de ternura
No teu lindo rosto
De mulher madura.
João Miranda
Só no silêncio
Do meu quarto,
Te sonhei
Te fiz nascer
Viver...
Te desejei
Como presença inteira
Te endeusei
Te guardei
Te perdi
Te reencontrei.
No silêncio
Do meu quarto
Na minha vida
És presença inteira!!
João Miranda
(10-02-1979)
Segunda-feira, 16 de Maio de 2005
Refugiei-me nas trevas
Perdi-me na solidão
Esperei por ti
Esperei sempre em vão!
Na noite desesperado
Em teus braços repousei
Na planitude afogado
Em ti não reparei
Aquele mar bravo desperto
Disse ás palavras o que dizer
E eu num romper incerto
Permiti que fossem esconder
O meu mundo penetrei com um olhar
E o sonho que será sempre teu.
Sobre as trevas continuei a voar
Sem as lágrimas que a maginação bebeu!
Mas nos reflexos de uma alma vazia
Com a ânsia o calor do momento
Aquele ar que por mim não corria
Dispersou-se com o sopro do tempo
E o verso de que fiquei despido
Não quis não me deixou entender
E a poesia diz "Eu sou a vida!"
Responde o poeta:
"E eu sou a força que te faz viver"
João Miranda
A ter podido escolher
Eu teria escolhido ser uma árvore
Eu sei que sofreria a força do vento
As agruras do tempo
A ganância dos homens.
A ter podido escolher
Eu teria escolhido ser uma rocha
Eu sei que sofreria a força da água
As agruras do tempo
A ganância dos homens.
A ter podido escolher
Eu teria escolhido não ter nascido
Eu sei que sofreria a ausência do pensamento
As agruras da inexistência
A ganância dos homens.
A ter podido escolher
Eu teria escolhido não ter sofrido
A dor da serra ou do machado
A dor da ausência ou do vazio
Magoaram-me mais que outra coisa qualquer
Não pude escolher!!!
João Miranda
Quinta-feira, 12 de Maio de 2005
A vida para além de tudo
As asas que o destino bate
As cores o sol as estrelas
Que o excesso nunca farte.
Nesse mar seco
Que é o amanhã
Onde o tempo passa
Sem cumprimentar
E o relógio ama
A estrutura do desequilibro
Desse mundo de nevoeirento toldar
Onde a casa é raramente um lar.
João Miranda
Quarta-feira, 11 de Maio de 2005
Alentejo lindo dourado
Por searas em movimento
Um artista com talento
Mostrou um dia expirado.
Terra de ceifeiras e mineiros
Dos homens da lavoura
Gente nobre e trabalhadora
E emigrantes aventureiros.
Grei de milho tigro e centeio
Da velha amiga oliveira
E também da azinheira
Faz parte do seu meio.
Alentejo terra de navegadores
De além mar pioneiros
De lavradores e corticeiros
E de poetas sonhadores.
Pedaço de terra famosa
De toureiros e cantores
De histórias contadores
És sem dúvida famosa.
Tens ainda o mais lindo litoral
Com praias de mar azul e prateado
Que deixa o olhar maravilhado
Com sua beleza sem igual.
Também és terra de minério
Com origens de mistério
E ainda nos dás o sal
Alentejo tu és encantamento.
Aos meus olhos deslumbramento
Meu Alentejo minha patria meu Portugal.
João Miranda