Quinta-feira, 30 de Junho de 2005
Em poucas horas
A três chegou a morte
Um era general de ideologia
Outro general de letras
Outro general de armas
Aos três chegou a vez
E que pode o poeta dizer
Em poesia
É que em todos estava a maneira
De ser português.
Não sei se levaram medalhas no peito
Mas os três mostraram
Com que gente Portugal é feito
Esquecidos não serão
Porque é com Portugueses destes
Que se refaz uma nação.
João Miranda
(24.06.2005)
Segunda-feira, 27 de Junho de 2005
No tempo rubro das cerejas
O Álvaro bateu asas e voou...
Vem rio abaixo
Até ao cais de embarque
Desce a costa contornando as praias
Pintadas de azul
De areal
De luz
De sol!
Sobre os trigais
Vestindo-se de ouro
E de musicalidade
Das tuas palavras
Levadas pelo vento norte
E espalhadas pelo universo
No tempo amarelo das rosas
O Álvaro fechou os olhos
E deixou-se adormecer...
Tranquilo...muito tranquilo
Os pessegueiros perdiam de vez a flor
Estendem os frutos suculentos
E perfume das tangerinas
Invadem a terra
Os ares os mares
E as merendas dos camaradas.
O tecelão da palavra
Permaneçe a lançar a semente
Da ideologia que teceu
E nas asas da gaivota
O Álvaro plana eternamente
O Álvaro não morreu.
João Miranda
(Ao Álvaro Cunhal)
Segunda-feira, 13 de Junho de 2005
Naquela folha
Tristemente
Voava o desespero
E na chuva a solidão
Na essência de uma gota de orvalho
Brilhava a melancolia
Dos meus olhos,
Límpidos e de criança.
Sou livre na sociedade
Organizada e vestida,
Estou nu e mergulho
Na água da minha imaginação.
É tarde para eu estar
Em qualquer dos dois pontos
Onde estaria
À mesma hora!!!
É no das chuvas
Que os meus lábios se afundam
E é das águas que fogem
Que se entranham na terra.
Que a minha liberdade brota
Fria e pura
Para quê falar do vento
Se cada rajada
Transporta um grito de lamento!
João Miranda
Domingo, 5 de Junho de 2005
Naquele rosto de bebé
Vejo o que um dia tive
A esperança de vencer
A esperança de ser feliz.
Naquele rosto de bebé
Vejo o nascer de um belo dia
O culminar de uma vida
O desabrochar da primavera.
Naquele rosto de bebé
Vejo o que um dia fui
O que ainda hoje quero ser
E aquilo que nunca poderei ser.
João Miranda
Sexta-feira, 3 de Junho de 2005
Terminei a minha noite
De trabalho
No silêncio da casa adormecida!
Abri aquele caderno
E escrevi.
Não...
Não havia nada de especial
A dizer!
Apenas uma vontade enorme
De saborear um momento
Slitário
Ao fim da noite
Apenas a necessidade
De agarrar o tempo,
Os acontecimentos,
Os próprios sonhos...
De os prender nas folhas
Em branco
Dum inocente caderno
De apontamentos.
(Um pouco como quem
Tomava notas
Da própria vida).
Escrevia,
Como quem matava a fome.
Pensava,
E tinha duvidas,
Abria a mão
De sonhos velhos
E resolvia aceitar o possivel
E a fundamentar minha vida
No que valia a pena...
Não!
Não escrevia
Como quem guardava coisas velhas
Numa arca.
Entre as folhas
D meu caderno
Estavam os sorrisos dos outros,
As conversas giras
Que tinha com os amigos,
Estava um pouco
Das minhas descobertas
E um pouco de espinhos
Que me magoavam...
Era preciso,
Como um dia
Me dissera um amigo
"Dar forma a isso tudo"
Para reconhecer
Que naquelas experiências
Aprender e continuar,
A aventura
Do dia seguinte...
João Miranda
Quarta-feira, 1 de Junho de 2005
É coração que toca forte
É lágrima temperada e quente
É olhar aflito
É um desatino da mente.
É solidão pesada
É anciedade excitada
É alegria incomodada
É memória ausentada.
É calma apagada
É noite em branco
É triste canto
É face em lamento.
João Miranda