Domingo, 31 de Julho de 2005
Há barcos ancorados
Há suspiros ais...
Choram sobre a ponte
Amores contrariados...
Penetram-me punhais
Como facas em queijo
Quando o sol beija
Aquela fonte!
Gemem os associados
Por causa dos apitos dourados?
E as inseguranças sociais
Todos querem a felicidade
Mas sem o cinto apertar
O que é bom... é namorar
Em toda e qualquer idade!
João Miranda
Quarta-feira, 20 de Julho de 2005
Nem o véu de água azul
Na gruta corada de espanto
Com a beleza dessa nudez
Faminta de caricias
Consegue evitar
Esse olhar sensual
Esse entreabrir de boca ruba.
Esse orfar subtil
De seio cheio
De fogo a consumir-se
Nesse lençol transparente.
Frio e macio
Nem a mão
Dolente e quente
Adormece o delírio da paixão
Antes acelera os ruborizados
Compassos do coração
Numa tarde morna
De silencios musicados
Em doces penumbras
Em leve ondulação azul
Donde emergem uns olhos lânguidos
E semicerados
E a sedução de um ventre plano
E dois mamilos escuros
E arredondados.
João Miranda
Quarta-feira, 6 de Julho de 2005
Após caminhos primeiros
Tragados da escola à lida
Nas obras de construção e engenheiros
Surge minha sombra erguida.
É também a vez primeira
Que olho a sombra que é minha
Diante de mim duradeira
Altiva precária se tinha.
Ficou hábito de presença
Então jamais me deixou
A noite trás sua ausência
Recolhe a mim de quem sou.
Diferentes caminhos trajados
Sombra minha companheira
Dás aos trabalhos pesados
A forma de brincadeira.
Tens vida de dia luzente
De sol na sua descida
Sombra pareces contente
Sempre perto de fugida.
Ao meu pé longe te mostras
Conforme a claridade
Nas casas e muros te prostas
Sempre a mesma habilidade.
Aos campos te lanças
Sobre a seara e o vento
Magoa-me a esperança
De perder-te a todo o tempo.
Mas eis que saltas de novo!
Num muro margem de estrada
À sombra nada é estorvo
Caminha mesmo prostada....
João Miranda